publicado em 05/12/2022
Impactada pelas altas na taxa de juros e no preço dos insumos a partir da pandemia, a indústria da Construção Civil deve enfrentar terreno menos acidentado a partir do próximo ano, com mais investimentos e incentivo por parte de novo governo a ocupar o Palácio do Planalto. A avaliação é do engenheiro civil e empresário Carlos Augusto Emery Cade, que assume a presidência do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (Sinduscon-PR) para a gestão 2023-2025.
Formado pela Universidade Federal do Espírito Santo, Cade tem mais de 20 anos de experiência no mercado e é fundador da Oros Engenharia, que atua em incorporação, obras públicas e comerciais, principalmente na região Sul do país. Em conversa com HAUS, Carlos Cade comentou o atual cenário, no estado e no país, e fez uma análise sobre os principais desafios a serem superados para que o segmento opere com menos amarras.
Para Cade, o setor ainda experimenta descompasso de custos, tanto em obras públicas quanto privadas, o que é exacerbado por um cenário de juros bancários elevados. Na avaliação do empresário, o segmento, composto essencialmente por pequenas e médias empresas, acaba caindo em um "limbo", com pouca atuação governamental apesar de ser motor importante para a economia. "O governo sempre tem uma boa política para micro empresa. Consegue arrumar dinheiro para elas sobreviverem num custo aceitável. E as grandes empresas sempre dão um jeito. As pequenas e médias, que são a maioria dos nossos associados, ficam num limbo financeiro, sujeitos a juros terríveis, de 30%, 40%, 50%. No momento em que as nossas empresas estão se recuperando, elas sofrem também com isso", completa.
A recuperação citada faz referência a uma retomada no volume de vendas, observada no primeiro semestre, mas que voltou a encolher com a aproximação das eleições. Segundo Carlos Cade, a sensação de um "3º turno" também é prejudicial ao segmento e a expectativa é por mais tranquilidade na situação política dentro dos próximos meses.
"Precisaríamos baixar a poeira para nós, empresários, podermos trabalhar", revela, apesar de atalhar preocupações com os indicativos de inchaço na máquina pública, tanto nacionalmente quanto no Paraná. "A gente vê com preocupação esse aumento de cargos. Vai refletir em aumento de custeio do governo federal, do governo estadual, o que acaba tirando dinheiro para investimento em segurança, infraestrutura, que Brasil precisa muito", reflete.
Apesar disso, o novo presidente do Sinduscon fala em otimismo para o horizonte a partir de 2023, com as promessas de foco em investimentos com a retomada de programas como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e, especialmente, do Minha Casa Minha Vida. "Acreditamos que este governo que está entrando a nível federal vai incentivar muito esta área. Acreditamos e vamos cobrar", resume Cade.
A avaliação é de que a Construção Civil responde muito rapidamente a incrementos nos investimentos, inclusive com capacidade de avanço na mão de obra contratada. "Esses programas de interesse social, a resposta não aparece só a nível de objetivo final, de dar moradia a uma população menos atendida, de menos possibilidade de compra. Eles refletem emprego imediato. E a indústria da Construção Civil se movimenta como um todo. Cada um empregado na obra representa cinco na cadeia da Construção Civil", revela. O empresário deixa, no entanto, um alerta.
Nas palavras de Carlos Cade, o setor, hoje, "está a pleno emprego, apesar de não estar a pleno vapor". Hoje a construção civil brasileira soma quase 3 milhões de empregos com carteira assinada, quase 200 mil no Paraná, mas o cenário ainda é de dificuldade na conquista de mão de obra. Para o empresário, isso nasce da informalidade ainda presente no setor associada a programas assistencias pouco criteriosos.
Como exemplo, o novo presidente do Sinduscon Paraná cita um recrutamento recente em que foram oferecidas cinco mil vagas, mas que atraiu apenas três mil interessados, muitos não qualificados para os postos. A tese do empresário é de que o largo uso de mão de obra informal no setor acaba aliado à possibilidade do recebimento de benefícios, como o Auxílio Brasil, que acaba por promover incremento na renda, mas prejudica a formalização.
Uma estratégia usada para contornar a ausência de candidatos é a oferta de qualificação, em parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e a Federação das Indústrias do Estado de Paraná (Fiep), segundo ele, no entanto, "não adianta abrir vagas, cursos, se não tiver pessoas para irem lá treinar. Aí eu volto: onde a gente esbarra? Eu acho que numa política equivocada ou mal estruturada do assistencialismo".
Outros gargalos apontados por Carlos Cade também passam por políticas governamentais. Entre necessidades para o setor, o empresário e novo presidente do Sinduscon aponta a necessidade de mais incentivo à tecnologia, com desburocratização ao crédito, e subsídios locais para a habitação popular, capaz de movimentar o segmento e colaborar com arrecadação.
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