publicado em 05/04/2024
No cenário cada vez mais competitivo do setor da construção no Brasil, com custos aumentando acima dos reajustes de índices oficiais, a união das construtoras para a realização de compras coletivas pode ser uma tendência na estratégia para minimizar os impactos negativos da escalada de preços. Esse tema pautou debate no no primeiro dia do 98º ENIC | Engenharia & Negócios, durante o painel O que estimula as construtoras a aderirem às compras coletivas. O 98º Encontro Nacional da Indústria da Construção é realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), dentro da FEICON, com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Serviço Social da Indústria (Sesi).
O evento ainda tem o patrocínio do Banco Oficial do ENIC e da FEICON, a Caixa Econômica Federal, do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (CREA-SP), Mútua, Sebrae Nacional, Housi, Senior, Brain, Tecverde, Softplan, Construcode, TUYA, Mtrix, Brick Up, Informakon, Predialize, ConstructIn, e Pasi.
Organizado pela Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (COMAT) da CBIC, o debate contou com moderação de Marcos Pereira Lago, vice-presidente da Cooperativa Central da Construção Civil (Coopercon Brasi)l, e recebeu como painelistas Marcos Vital, executivo da Coopercon Alagoas; Emanuel Capistrano, presidente da Coopercon Ceará; Carlos Mattar, diretor-executivo de vendas técnicas de produtos para construção do grupo Saint-Gobain; além de Eduardo Sales Ferreira, diretor comercial de cimento técnico, concreto e agregados da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) Cimentos Brasil.
A Coopercon nasceu no Ceará há 27 anos e hoje tem filiadas cooperativas nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Sergipe. Capistrano falou sobre como a entidade cresceu nos últimos anos e sobre o potencial de crescer ainda mais. “Olhando lá para trás, sonhamos alto e vemos hoje como cresceu. Tem vários estados que ainda não entenderam a oportunidade que cooperativas trazem para construtores”, ressaltou.
Vital, representante da Coopercon Alagoas, destacou a importância das cooperativas na redução de custos e na busca por melhores preços e qualidade. Ele frisou o crescimento do movimento cooperativista na construção civil, exemplificando com números expressivos de compras intermediadas pelas cooperativas, que ultrapassam os bilhões de reais.
“O que estimula as construtoras a fazerem essas compras? A essência é reduzir custos, com melhor preço de qualidade, mas a tarefa é árdua, porque ainda não se tem a percepção de que se tivermos um grupo coeso entregamos resultado muito maior. Em 2023 foram R$ 390 milhões intermediados pelas cooperativas em 2023. Parece muito, mas é a ponta do iceberg, representa de 15% a 20%. Quando o setor enxergar o tamanho desse negócio, esses números vão explodir”, disse o executivo.
Já Carlos Mattar, do grupo Saint-Gobain, levou insights sobre o compromisso da empresa com a inovação e a busca por soluções que atendam às demandas do mercado. Ele mostrou a importância da interlocução e parceria com as cooperativas para garantir negociações mais seguras e inovadoras. Com 360 anos de fundação, o grupo está presente em 75 países e, segundo o diretor-executivo, tem o compromisso com a neutralização de carbono até 2050. No Brasil, o grupo tem 12 mil colaboradores. “Entendemos que o mercado para se desenvolver temos que fazer de acordo com o ambiente. O que o que estimula fornecedores como a Saint Gobain a fazer parte da parceria com construtores? Maior interlocução, mais segurança em negociações e inovação”, explicou Mattar.
O representante da CSN, Eduardo Sales, enfatizou a crença da empresa no cooperativismo e sua longa relação com a construção civil. A siderúrgica é uma multinacional com 80 anos no Brasil e até hoje é uma das maiores do país. Há cerca de 20 anos começou a produção de cimento e atualmente é a sétima fabricante do material no ranking do país.
Ele ressaltou a necessidade de entender a estratégia por trás do cooperativismo e destacou que a cooperação deve ocorrer entre construtoras e indústrias, não apenas dentro das construtoras. “A indústria precisa ver quais ganhos vão ter nessa relação do cooperativismo além de preço. A cooperativa nós às vezes interpretamos errado. Cooperativa é um foro de cooperação das indústrias com as construtoras”, destacou Sales.
Durante o painel, foi feita uma reflexão sobre o papel das indústrias na relação com as cooperativas, evidenciando que a cooperação é benéfica para todas as partes e não deve ser encarada como uma relação de confronto. Para encerrar o debate, Marcos Lago destacou a importância da união e cooperação entre construtoras e fornecedores, enfatizando que o modelo de cooperação adotado pelas cooperativas não se trata apenas de buscar preços mais baixos, mas sim de construir uma relação sustentável e transparente, onde todos saem ganhando.
“Uma cooperativa não é uma empresa mercantil. Ao final distribui as sobras aos cooperados. Se empatar na compra e comprar bem em volume alto, as sobras justificam o empate no preço. E não é só preço, não esqueçam. O cooperado é dono de cooperativa, recebe, sobra, coloca em planilha e vai ver que houve ganho no preço do insumo. É um ‘ganha ganha'”, concluiu o moderador.
Em um momento de agradecimento e reconhecimento, cooperados e fornecedores presentes no painel no ENIC expressaram gratidão pelos resultados alcançados através do trabalho conjunto das cooperativas.
Esse tema tem interface com o projeto “Inteligência e Estratégia para o Futuro da Construção”, da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (COMAT) da CBIC, com a correalização com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
Fonte: CBIC