publicado em 25/11/2019
Quando uma empresa tem valores morais e princípios e atende todas as exigências legais e organizacionais, ela exercita a ética e o compliance (em inglês, conformidade) e melhora seus resultados. Para discutir estes conceitos e suas práticas na Indústria da Construção, o juiz federal Anderson Furlan Freire da Silva e o cientista político Leonardo Barreto, participaram no dia 22, do painel ‘Como a Ética torna uma empresa mais eficiente’, durante o Congresso Nacional de Engenharia, Construção, Tecnologia e Inovação (Conecti CBIC 2019), em Maringá (PR).
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, foi o mediador e destacou que desde 2014 inseriu a CBIC fortemente na discussão sobre o tema. “Esse é um assunto fundamental para o setor, e os resultados das empresas que agregam ética e compliance nas suas rotinas são notórios, com ganhos em competitividade, estrutura enxuta, mais agilidade e eficiência”, destacou.
Leonardo Barreto também acompanhou o processo de discussão sobre compliance na construção civil desde o início. “Há quatro anos, era preciso convencer os empresários de que estava nascendo uma condição nova e que todos deveriam refletir e estudar a respeito. No Brasil, as discussões do assunto nasceram muito atreladas à corrupção. Mas com a Lava-Jato, muitas empresas se atentaram sobre a necessidade de se adaptarem”, afirmou.
Para o cientista político, a primeira coisa consolidada nessa temática é que a questão do compliance se tornou um movimento global. “Essa é uma evolução nos padrões de governança e cultura, então mesmo que o Brasil faça alguns recuos, estamos sob uma forte pressão internacional para não darmos passos para trás. Hoje, há uma onda de secretários de governança e transparência nos estados, além de projetos com exigência de compliance para participar de processos de contratação com o poder público”, frisou.
A autorregulamentação do setor também é necessária, segundo Barreto. “Se a legislação não for bem feita, pode trazer problemas, ao invés de soluções. O Brasil é o sétimo mais complexo do mundo, com muitas mudanças regulatórias, incertezas e mudanças na política, que podem comprometer o processo”, comentou Barreto, que é consultor da CBIC.
Martins ressaltou que hoje não existe compliance para o trabalhador, ou para quem faz uma obra pública sem qualidade, por exemplo. “Precisamos defender esse ponto para concorrer em igualdade de condições, já que o setor se adequou às necessidades atuais”, disse o executivo.
Já Furlan, considerado importante defensor dos princípios liberais de ética e moralidade pública e que foi um dos signatários do Projeto de Lei de Transparência – aprovado pela Assembleia Legislativa do Paraná e que tornou o estado pioneiro no combate à corrupção – reforçou o papel da operação Lava-Jato nesse processo de ética na sociedade. “As maiores construtoras do país, de certa forma, mancharam o nome desse que é o principal segmento de emprego e renda da sociedade brasileira, com casos de corrupção. A raiz da ética, o respeito pelo espaço do outro, não é simples. Mas hoje o setor está mudando isso, incorporando o compliance como prática indispensável nas empresas e que podem representar uma virada na impunidade”, afirmou.
No Brasil, especificamente, muitas teorias tentam justificar a corrupção que assola o território, segundo Furlan. “Infelizmente isso perdura e a percepção da corrupção no Brasil é um fato a ser analisado. Um levantamento recente feito com empresários aponta que 96% dos executivos brasileiros acham que a corrupção e o suborno são práticas que ocorrem amplamente nos negócios feitos no país”, comentou Furlan.
Para o juiz, existe uma pré-compreensão de que brasileiro é naturalmente desonesto e corrupto e isso precisa mudar. “Gostaria de enaltecer a importância de entidades civis que se posicionam e se movimentam no sentido de tocar a corda ética da sociedade, promovendo ações fundamentadas em leis e na educação para modificar aos poucos o cenário da corrupção no Brasil”, comentou.
O presidente da CBIC lembrou com orgulho do importante papel que a CBIC desenvolve há vários anos nessa área. “Nós fomos uma das primeiras entidades a denunciar ações ilícitas de governantes, como aconteceu com o ex-presidente [da República] Fernando Collor, por exemplo”, lembrou Martins.
O tema do painel têm interface com o projeto da CBIC ‘Ética e Compliance na Construção’, que é correalizado pelo Serviço Social da Indústria (Sesi Nacional).
Fonte: CBIC