publicado em 30/08/2021
A construção civil foi um dos setores que não parou os trabalhos durante a pandemia, impulsionada por uma expectativa de alta nas vendas de imóveis, por conta de fatores como facilidade na concessão de créditos e juros baixos. Curitiba teve aumento de mais de 50% tanto no lançamento como na venda de novos imóveis, em relação ao primeiro semestre de 2020.
O aquecimento da construção, no entanto, caminha lado a lado com repique inflacionário e agravamento das incertezas políticas e econômicas. Nesse contexto, qual o risco de haver superoferta de imóveis em Curitiba? Ou seja, qual a possibilidade de os novos lançamentos patinarem por falta de compradores? O vice-presidente de Banco de Dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (Sinduscon-PR), Marcos Kahtalian, tem uma resposta direta: “Não há a menor chance”.
Para Kathalian, por conta das incertezas, a velocidade do consumidor para compras foi maior do que a capacidade de suprimento das empresas. “O crédito imobiliário cresceu em 2020, mas não tinha produção suficiente, o estoque das construtoras foi sendo consumido. Agora em 2021 as empresas passaram a repor, mas lançar produto imobiliário não é algo simples. Então a velocidade da colocação do produto no mercado não é a mesma”, explica.
Em Curitiba, entre janeiro e junho deste ano, foram 3.097 apartamentos lançados, 52,6% a mais do que no mesmo período em 2020, em que o número era 2.029, de acordo com os dados da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR). Mas as vendas também cresceram. No primeiro semestre deste ano, foram 3.235 imóveis vendidos, enquanto no mesmo período do ano anterior, 1991, o que representa um aumento de 62,5%.
Segundo o consultor de pesquisa de mercado da Ademi-PR, Guilherme Braga Werner, a abundância de crédito, aliada a um bom momento de taxa de juros fez com que o consumo crescesse. “Curitiba vendeu R$ 1,65 bilhão neste ano, contra R$ 1 bilhão do ano passado. São 650 milhões a mais. Mesmo com a alta nos lançamentos, reduziu nosso estoque em mais de 6%. Hoje o consumo de imóveis é superior ao volume colocado na praça. Se ninguém lançasse mais nada em Curitiba, o estoque da cidade inteira seria consumido em menos de um ano”, ressalta Werner.
Outro fator de influência nessa questão é o número de imóveis disponíveis na capital, que neste ano registrou queda em comparação ao primeiro semestre do ano anterior. Atualmente, são 6.056 unidades de ciclo primário à venda, contra 6.470 entre janeiro e junho de 2020. “Não vejo no Paraná, no momento atual, um cenário de superoferta porque estamos com estoque baixo e ainda um apetite de compra muito grande. Esse ano, o Brasil vai ter recorde de concessão de crédito imobiliário com recurso da poupança. Embora o ano tenha começado com muitos lançamentos, é reposição do que não foi lançado em 2020”, relata Kathalian.
Werner ainda destaca que a capital tem uma série de produtos com alta velocidade de venda já em período de lançamento. Além disso, o Centro, bairro que concentra a maior parte de empreendimentos à espera de um dono, tem um número baixo de estoque, apenas 15%. “É uma região central com boa movimentação de compras”, explica.
Mas na opinião do diretor do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Paraná (Creci-PR), Julio Cattaneo, haverá uma desaceleração na construção de imóveis por conta do alto custo de matéria-prima. Segundo o Custo Unitário Básico (CUB), indicador da construção civil calculado pelo Sinduscon, em junho deste ano, o custo de material teve alta de 39,46%, no acumulado em 12 meses. “Não vai haver superoferta, porque como houve aumento da construção, os lançamentos vão se adequar aos novos padrões de consumo. Conforme vão sendo colocados no mercado, vão sendo consumidos. Então não vejo que vai sobrar produto”, ressalta.
Curitiba tem recorde de licenciamentos de unidades
Entretanto, apesar dos custos elevados na construção civil, o setor não parece disposto a frear os lançamentos. De acordo com a Ademi-PR, Curitiba teve um recorde no número de licenciamentos de unidades nos últimos 10 anos. No primeiro semestre deste ano, as construtoras e incorporadoras licenciaram 8.929 unidades, quase o dobro do volume realizado no mesmo período de 2020, em que foram licenciados 4.885. “Isso demonstra a boa animosidade do setor e a confiança do empresário em colocar novas unidades no mercado, mesmo no cenário de altos custos na construção. Se está licenciando é porque tem demanda. Essa confiança é justamente em decorrência de um alto consumo de imóveis”, opina Werner.
Para os próximos meses, a expectativa é de estabilidade, mas também de desafios a serem enfrentados. “O mercado não acredita que o volume de compra, em termos de ritmo de crescimento, seja maior do que vem sendo. Estamos num patamar elevado e isso obviamente vai se estabilizar. Esse ano ainda terá alguns lançamentos, mas que não vão dar conta de atender a demanda toda. Em 2022, teremos desafios importantes porque possivelmente vamos conviver com inflação, elevação das taxas de juros, pressão de custos. Esse ano foi positivo, mas o próximo vai requerer lançamentos estratégicos”, reforça Kathalian.
Além disso, os impactos do aumento de custos na construção ainda não foram totalmente sentidos, portanto, o diretor do Creci reforça que é importante ter cautela, já que isso será refletido nos próximos empreendimentos. “Um complicador para o setor é a pressão de custo generalizada, isso de alguma maneira acaba chegando ao consumidor. E o aumento começa a se realizar agora, esse é o desafio”, ressalta.
fonte: https://bit.ly/3mHUMuT