publicado em 11/06/2019
O auditório do Sinduscon-PR ficou lotado na noite de comemoração ao jubileu de brilhante da entidade, celebrado no dia 10 de junho, na sede social em Curitiba. Para marcar os 75 anos de história, foi realizado um debate sobre a autorregulação da indústria da construção como estratégia para acelerar o crescimento do setor. Foram convidados o presidente da CBIC, José Carlos Martins; a Ministra do Superior Tribunal de Justiça e o cientista político Leonardo Barreto.
O presidente do Sinduscon-PR, Sério Crema, destacou que a força, o respeito e a representatividade que a entidade tem hoje perante os poderes constituídos e à sociedade são reflexo do trabalho que vem sendo desempenhado pelos diversos empresários da construção, que voluntariamente integraram as sucessivas diretorias desde o início de sua história até os dias atuai.
Ele reforçou o quanto o mundo mudou nos últimos 75 anos. “A inovação e o avanço das novas tecnologias promoveram revoluções em todos os setores, e com o passar dos anos vêm imprimindo um novo ritmo para a nossa indústria. Vivemos já a era da Internet das Coisas, da Inteligência artificial, da Impressão 3D, da robótica, do BIM e da Industria 4.0. Porém, diante de toda esta transformação, o que não mudou é a necessidade do ser humano demorar. O que mudou, de fato, é a forma de viver, de conviver e de consumir. É sobre isso que precisamos refletir agora. Precisamos nos preparar para o futuro que começa a ser construído hoje”, destacou.
Ao fazer um retrospecto de 2014 para cá, José Carlos Martins destacou que a indústria da construção foi o setor produtivo mais atingido de toda a economia brasileira. “Nós estamos de 25 a 27% abaixo de onde estávamos há cinco anos. Ou seja, nós teríamos que crescer 7% ao ano até 2024 para voltar ao patamar de 2014. Para somar, também somos o setor que mais está demorando para reagir”, avalia.
Em sua avaliação, esta demora deve-se a uma série de fatores, mas José Carlos frisou a questão da reputação e da confiança. “Não existe hoje nenhum negócio que se mova sem reputação. Porque nós estamos vivendo a era da economia da confiança. Velhas práticas não cabem mais no Brasil de hoje”, reforça, acrescentado que a CBIC tem percorrido o País com o objetivo de melhorar a imagem do setor que foi manchada por um pequeno grupo de grandes construtoras.
Leonardo Barreto explanou sobre o cenário político brasileiro, frisando que infelizmente o processo eleitoral de 2018 não conseguiu pacificar o País. “O atual governo não montou uma base de sustentação, o que gerou uma situação de impasse no congresso nacional, que ainda está em processo de adaptação. Alguns congressistas estão buscando soluções, outros estão aguardando que o governo ceda em algum momento, ou flertam com uma substituição de governo”, destaca. Ele frisa que é neste contexto turbulento que a indústria da construção precisa seguir adiante, fazendo pressão para que o governo melhore o ambiente de negócios no País. “A indústria também terá de fazer a sua parte e avançar naquilo que está ao seu alcance: uniformizar a legislação, reduzir a informalidade, criar um ambiente de concorrência mais leal, reduzir custos, negociar com fornecedor, acessar outros mercados, investir em tecnologia, criar laboratórios de inovação, enfim, a indústria realmente tem um desafio grande e real”, reforça.
Solução está na política e nas urnas
Na visão da Ministra Eliana Calmon, a maior contribuição da Operação Lava Jato não foram as condenações, mas sim a descoberta do crime institucionalizado, onde diversas quadrilhas atuavam infiltradas dentro do Estado usando de todas as regalias do poder público. “As armas usadas pelo crime organizado é a falsificação, a obtenção de documentos fraudulentos etc. Mas no crime dito institucionalizado é a caneta e o Diário Oficial, nomeando-se por interesses escusos aquele que vai fazer o edital de licitação, dar as regras do jogo para as concorrências, nomear o primeiro e o segundo escalão”, salientou.
Ela frisou ainda que a operação Lava Jato não será suficiente para banir do Brasil a corrupção, e os meios que o Judiciário tem para barrá-la são muito pequenos. “A Lava Jato trabalha com as consequências da corrupção, mas para bani-la nós temos de voltar a trabalhar com as suas causas, o que só se faz politicamente. Não se faz com lei, com juiz, nem com condensação penal. Isso se faz com política, que é a parte mais difícil, mas nós já começamos quando mudamos grande parte do Congresso Nacional, tirando algumas figuras carimbadas, como da primeira república. É na urna que podemos mudar os rumos do País”, finaliza.
Foto: Valterci Santos