publicado em 10/06/2013

69 anos de história

Design integrado: a fórmula do sucesso dos projetos Foster + Partners

O arquiteto maringaense, Edson Yabiku, foi o convidado especial do evento de aniversário de 69 anos do Sinduscon-PR, realizado no dia 4 de junho. Sócio do famoso escritório de Norman Foster + Partners, de Londres, o paranaense veio a Curitiba a convite da entidade para explanar sobre cidades inovadoras e planejamento urbano.

Diante de uma plateia de arquitetos, engenheiros, empresários da construção civil, estudantes, representantes de entidades de classe, do poder público e imprensa, o arquiteto renomado explanou sobre o desafio do escritório, que busca inovação em cada novo projeto, utilização de materiais modernos, com foco na integração entre arquitetura e recursos de alta tecnologia, aproveitamento de energia, luz natural, aquecimento ? sempre respeitando a escala humana.

Ele fez uma apresentação da filosofia Foster de atuação, onde nenhum funcionário tem sala fechada, nem mesmo Norman Foster. ?Somos em 1000 pessoas, do mundo todo, trabalhando em um espaço aberto, onde todos têm acesso a todas as cabeças, pois não acreditamos em conhecimento departamentalizado. O princípio de tudo é a comunicação, a cultura é de colaboração, cocriação, nosso foco é o design integrado?, salienta. 

Outro fator que faz diferença no resultado dos trabalhos, segundo Edson, é o fato de os arquitetos estarem envolvidos no projeto, do início ao fim. ?Ele vai a campo acompanhar a evolução das obras, porque é fundamental para sua aprendizagem conhecer todos os detalhes. Na nossa concepção, o arquiteto precisa retomar este espaço, reassumir esta responsabilidade?, diz.

Na Foster, o arquiteto não pode perder a capacidade de questionar, e para incentivar o profissional a pensar cada projeto como um novo trabalho, não há no escritório separação de especialidades. ?Quem coordenar a criação de um aeroporto, por exemplo, não entra em novos projetos desta área, para que ele nunca tente cortar caminhos, não tenha medo de perguntar: será que esta é a melhor solução??, ressalta.
 
Cases de projetos desenvolvidos pelo mundo

Edson Yabiku criticou as concorrências onde escritórios de arquitetura têm duas ou três semanas para apresentar um estudo de fachadas para conquistar um novo cliente, e ganha aquele que mostrar o desenho mais bonito. ?Para nós, o planejamento é feito de dentro para fora, não apenas de fora para dentro. O que tem de ser analisado é projeto que vai gastar menos energia, que reduz o consumo de água, que atribui melhor qualidade de vida aos usuários, diminuindo absenteísmo no trabalho, evitando queda de produtividade, etc?, diz. 

Dentre os projetos desenvolvidos pela Foster, o arquiteto brasileiro destacou o Commerzbank, em Frankfurt, um dos arranha-céus mais altos do mundo, com 259 metros e 56 andares. ?Na Alemanha usa-se no máximo uma fachada com 18 metros contínuos de largura para que ninguém fique distante da iluminação natural. A fachada também recebe recortes e reentrâncias que impedem regiões mais escuras dentro do ambiente de trabalho, a fim de que haja um balanço entre luz natural e ar-condicionado, deixando os espaços menos depressivos?, destaca, explicando que uma planta quadrada obriga boa parte dos ocupantes do prédio a ficar em áreas centrais mal iluminadas e com forte ar-condicionado.

Ele citou também o empreendimento Swiss Re Tower, em Londres, que foi um dos primeiros arranha-céus ecológicos de Londres. Trata-se de um edifício em forma de projétil (conhecido popularmente como Gherkin / Pepino), projetado com esta aerodinâmica para potencializar a eficiência energética. ?Este design cria um diferencial de pressão entre o interior e exterior, puxando ar novo para dentro do edifício. Quer dizer, a forma está ligada à função, aspectos operacionais/funcionais e tecnológicos?, explica.

O prédio conta com sistema automático de aberturas de janelas em poços de luz, que abrem automaticamente para aumentar e ajudar o sistema de condicionamento com ventilação natural, o que economiza energia em torno de 40 % ao ano.

Qual é o futuro que queremos para nossas cidades?

Edson Yabiku discorreu sobre o conceito de sustentabilidade, destacou a importância de refletir sobre o modo de viver das pessoas e o impacto dos hábitos de hoje para as gerações futuras. ?Este conceito deve fazer parte de todo o projeto, desde a sua concepção, envolvendo todas as equipes, até o usuário final, que precisa ser orientado sobre uso e manutenção do espaço. Apenas desta forma é possível alcançar eficiência econômica, energética, e de recursos?, diz, reforçando que as certificações são apenas ferramentas de comunicação.
 
Enquanto que no Brasil o conceito de sustentabilidade está mais presente em empreendimentos comerciais e corporativos, em outros países da Europa, Estados Unidos e Ásia os residenciais já seguem esta linha. ?Muita gente fala que sustentabilidade custa caro, mas o que encarece qualquer produto é a falta de planejamento, de pensa-lo a médio e longo prazos?, frisa.

Poder público municipal participou do evento

Após a apresentação do arquiteto da Foster + Partners, foi realizado um debate, mediado pelo presidente do Sinduscon-PR, Normando Baú, que contou com a participação do presidente do IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba), Sergio Póvoa Pires, e do Secretário Municipal de Meio Ambiente, Renato Lima.

Foi discutido sobre planejamento urbano, especialmente sobre adensamento da cidade, que é uma das principais reivindicações da indústria da construção ao poder público. ?Não podemos ficar construindo em áreas distantes do centro e de infraestrutura, precisamos adensar Curitiba, verticalizar os domicílios, para permitir que as pessoas morem perto do trabalho, escolas e comércio, para que não dependam de carro, enfrentem trânsito, gastem combustíveis, e possam caminhar, usar bicicleta ou transporte público?, pondera Baú, indo ao encontro dos conceitos de cidades inovadoras apresentadas pelo arquiteto Edson Yabiku.